Sugestão para passeio
de um dia.
Rota
Castreja
Nota
introdutória:
A criação deste “roteiro” tem
como base o conhecimento pessoal dos locais, das vias de comunicação e
sobretudo nosso gosto pessoal. É também fruto de algum trabalho de pesquisa na
Internet, mas que de científico nada tem assim como tão-pouco poderá ser
considerado como um guia. Este “roteiro” tem como ponto de partida a cidade do
Porto e está pensado como passeio de um dia e com um grau de subjectividade
elevado. Claro está que na região norte e em particular na faixa litoral, são
muitos os Castros e se subir um pouco mais e formos até à Galiza mais serão
ainda. Felizmente que o estado de recuperação e conservação em muitos casos se
pode considerar como boa.
Com a realização deste “roteiro”
serão várias as vantagens com que poderão ficar no final do dia, uma vez que o
itinerário escolhido em termos paisagísticos é agradável, culturalmente irão
aumentar os vossos conhecimentos, vão também contactar um pouco com a natureza
devido à localização dos Castros e os mais preguiçosos vão ter aqui um bom
motivo para caminhar um pouco (fazendo pois assim algum exercício). Como a
esmagadora maioria das pessoas vive em cidades poluídas, aproveitam assim também
para respirar um pouco de ar puro. Pelas diversas características somos de
opinião que estas visitas não se devem efectuar em dias de muito calor…
Terminamos pois esta pequena nota
introdutória como a iniciamos, ou seja, relembramos o grau de subjectividade da
nossa escolha e a aproximação geográfica de outros Castros por nós não
indicados fazer com que a sequência sugerida possa não ser a melhor.
Mas o que são os Castros?
Os Castros são as ruínas ou
restos arqueológicos de um tipo de povoado da Idade do Ferro característico das
montanhas do noroeste da Península Ibérica. Os povoados eram construídos com
estruturas predominantemente circulares, revelando desde cedo a implementação
de uma «civilização da pedra», quer nas zonas de granito quer nas de xisto.
Uma cividade (substantivo
feminino antigo de cidade) ou Citânia é um castro de maiores dimensões e
importância, habitado continuamente. A designação Citânia é comparada com o
"Cytian" dos povoados fortificados nas ilhas Britânicas.
Durante muito tempo
consideraram-se os castros como "povoados fortificados", mas esta
designação, consagrada pelo uso, é evidentemente muito redutora, porque recobre
realidades arqueológicas muito diversas e susceptíveis de variadíssimas
interpretações. Recentemente, tem-se vindo a aperceber que estes sítios são de
uma enorme a complexidade, que de maneira alguma se podem apenas subsumir numa
qualquer "cultura" local (ou várias), e muito menos numa
"função" militar.
Em termos arqueológicos os
castros estão quase invariavelmente localizados no topo de montes que são
defesas naturais e permitem o controle táctico dos campos em redor. Estes
montes tinham sempre fontes ou pequenas ribeiras, e naqueles mais desprovidos
de água eram construídos reservatórios pelas populações, provavelmente para
resistir aos cercos.
Um castro típico é fortificado
por uma até quatro muralhas, mas mais comummente três, que complementam as
defesas naturais do sítio. As casas têm cerca de três a cinco metros de
diâmetro, e são na sua maioria circulares com algumas rectangulares, feitas de
pedra solta e terra, com telhado cónico de colmo suspenso por um pilar de
madeira central. As ruas são algo regulares, sugerindo organização social
avançada. Os castros variam de algumas dezenas a algumas centenas de metros em
diâmetro.
Julga-se que os castros eram
locais de refúgio durante as guerras tribais Célticas e pré-Célticas, mas
muitos, incluindo todas as citânias, eram verdadeiros centros populacionais
continuamente habitados.
Observam-se normalmente cinco
tipos diferentes de muros castrejos:
· Muralha de alinhamento,
espessura e aparelho irregulares constituída por camadas de pedras colocadas
horizontalmente, como ocorre no Castro do Coto da Pena.
· Muralha espessa com duas faces
regularizadas de grandes blocos preenchidos por um aglomerado de pedras sem
argamassada, como ocorre no Castro de Sabroso.
· Uma grande construção
constituída por dois muros paralelos de faces verticais, normalmente de grandes
blocos dispostos irregularmente, com intervalo preenchido por terra, tal como
acontece na Cividade de Terroso.
· Construção sólida com muros de
reforço adossados tal como ocorre no Castro de Romariz.
· Muralha simples com espessura
média de 1,50 metros, normalmente formada por dois paramentos paralelos, tal
como ocorre na Citânia de Briteiros.
Podemos considerar como três as
fases da cultura Castreja:
1.A cultura Castreja formou-se
num contexto atlântico com relações continentais e mediterrânicas por volta do
ano 900 a.C.
2.A segunda fase inicia-se por
volta de 500 a.C. e desenvolve-se com as migrações túrdulas, o comércio púnico
e as primeiras importações provenientes da Península Itálica. É igualmente a
fase da chegada de elementos étnicos célticos cujos contornos cronológicos e
históricos devem ser entendidos no âmbito dos diversos processos regionais de
celtização peninsular.
3.A terceira fase é a da
proto-urbanização da cultura castreja com apogeu e declínio na era da
romanização.
Os Castros já existiam durante o
Neolítico e a Idade do Bronze, muito antes das invasões Célticas. Julga-se que
a Cultura Ibérica desses povoados se misturou com os elementos célticos sem
quebras de continuidade. O Céltico, provavelmente o dialecto Goidélico,
tornou-se a língua franca de toda a Cultura Atlântica. Muitos dos megalitos da
Idade do Bronze como menires e dólmenes estão situados em regiões em que também
há castros, e são anteriores aos Celtas quer em Portugal e na Galiza, quer na
costa atlântica da França, Grã-Bretanha e Irlanda. Estes monumentos continuaram
a ser utilizados pelos druidas celtas.
Os Romanos destruíram muitos
castros, devido à resistência feroz dos povos castrejos ao seu domínio, mas
alguns foram aproveitados e expandidos como cidades romanas. Segundo Jorge de
Alarcão "Aos castros, deram os Romanos o nome de castella, que aparece nas
inscrições do século I d.C. sob a forma abreviada de um C invertido"
A zona nuclear castreja
corresponde a toda a Galiza e à região portuguesa de Entre-Douro-e-Minho que
confina a leste com a área ocupada na antiguidade pelos povos da etnia Zoelae
para além do rio Sabor. Existe uma grande densidade de castros no Alto Minho,
em especial nos territórios dos concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira,
Valença, Paredes de Coura, Viana do Castelo (Citânia de Santa Luzia, Castro do
Vieito), Ponte de Lima (Castro de Santo Ovídeo) e Esposende (Castro de São
Lourenço). No entanto, na bacia do Ave – Vizela existe um maior conjunto de
castros de grande dimensão: a Citânia de Sanfins, Citânia de Briteiros,
Cividade de Bagunte, o Castro de Alvarelhos e ainda nas proximidades a Cividade
de Terroso.
Menos densas são a região de
Basto e ainda menos densa é a planície litoral a Sul do Douro. Em
Trás-os-Montes, existe uma concentração significativa nas zonas de terras
altas, com altitude superior a 750 metros, nos concelhos de Montalegre, Boticas
e parte dos concelhos de Vinhais e Bragança.
Novas perspectivas sobre a
celtização do NO de Portugal e o território dos Callaeci Bracari valorizam
características culturais e linguísticas de filiação céltica no substrato
castrejo, ainda com forte expressão durante o período galaico-romano (inscrição
da Fonte do Ídolo em Braga e o nome da cidade galaico-romana de Tongóbriga).
Também há alguns castros no
Centro de Portugal e nas Astúrias (região de Espanha). Povoados semelhantes também
foram encontrados na França Atlântica (Bretanha), Grã-Bretanha e Irlanda.
Mas
vamos à nossa sugestão de “roteiro” – Castros a visitar:
· Castro de São Paio
(Labruge – Vila do Conde).
· Cividade de Bagunte (Vila
do Conde).
· Castro do Monte Padrão
(Santo Tirso).
· Citânia de Sanfins (Paços
Ferreira).
1ª
Parte – Castro de São Paio (Labruge – Vila do Conde)
Para começar este “roteiro” nada
melhor que tomar um cafezinho junto á praia em Labruge e visitar o Castro S.
Paio.
A grande variabilidade de
implantação na paisagem dos habitats da Idade do Ferro no Norte de Portugal
encontra exemplo de muito interesse no pequeno castro de S. Paio, em Labruge,
que constitui o único povoado castrejo absolutamente marítimo de toda a costa
portuguesa, ao contrário do que sucede na Galiza, onde se conservam vários
destes castros litorais, como o bem conhecido de Baroña.
O castro de S. Paio, que tira o
nome do orago da pequena capela existente no local, é um povoado de reduzidas
dimensões, assente num pequeno cabeço com cota de 14 metros, junto à praia. As
suas defesas parecem resumir-se a uma muralha ou talude, de que podem ver-se
vestígios a Nascente, associada a um fosso, que protegeria os habitantes na
área mais aberta a terra, já que do lado oposto o mar constituía natural e
eficaz protecção. Bastante destruído pela erosão litoral e pela utilização
balnear do local, o castro conserva ainda vestígios das suas habitações,
podendo ver-se alguns muros e construções de planta circular, se bem que as
escavações arqueológicas tenham proporcionado o achado de variado espólio e
outros elementos de interesse, como lareiras e pisos em argila decorados, que
se encontram protegidos. Nas proximidades existem penedos com gravuras, de
cronologia incerta. As escavações realizadas documentaram a ocupação deste
povoado, que se encontra em processo de musealização, entre o século I antes de
Cristo e os primeiros séculos da nossa era.
Como lá chegar:
Pela auto-estrada A28 (antigo
IC1), que deverá abandonar-se na saída de Modivas (depois da área de serviço de
Modivas - junto à Lactogal), seguindo depois para Sul pela Estrada Nacional 13
(Vila do Conde - Porto) e voltando à direita no 2º cruzamento a partir do qual
a estação está abundantemente sinalizada. Já próximo da praia tomar em atenção
pois a via é estreita e só passa um carro.
2ª
Parte – Cividade de Bagunte (Vila do Conde)
Depois do cafezinho e da visita
ao Castro S. Paio está na hora de se seguir para a Cividade de Bagunte e que
dista a cerca de 16 km pelo caminho mais curto.
Regressam á EN 13 e desta vez
viram em direcção a Vila do Conde. Já na EN13 e depois do Outlet tem o início
da recta do Mindelo e um pouco antes do final existe um cruzamento onde para a
esquerda vai dar a Mindelo. Nesse cruzamento vira-se á direita (rua em piso
empedrado) e segue-se direcção a Fajozes – mas continuando sempre até a estrada
acabar cerca de 3km Quando chegarem ao fim da estrada vão apanhar a N1064 e
viram á esquerda e depois é sempre em frente até Bagunte onde vão encontrar
sinalização para a Cividade. Em alternativa podem sempre fazer o seguinte
percurso, ou seja, iniciado em Vila do Conde, deve tomar-se a Estrada Nacional
206, em direcção a Vila Nova de Famalicão. Cinco km depois (7 minutos) devem
cortar à direita, na direcção de Junqueira, pela estrada municipal 525-4. Em
Junqueira atinge-se o cruzamento com a Estrada Nacional 306 (1’9 km depois,
cerca de 5 minutos), onde se deve seguir em frente, na direcção de Bagunte.
Passados 1’6 km (cerca de 2 minutos), deve cortar-se à esquerda para Bagunte,
atravessando a localidade na direcção do monte da Cividade, pela estrada
municipal 527. 2’3km depois (5 minutos) encontra-se sinalizada a Cividade, do
lado esquerdo da estrada (como referencia tem uma paragem de autocarro com
abrigo.
Sobre a Cividade de Bagunte o que
se pode escrever?
Na faixa sudoeste do Entre Douro
o relevo é pouco elevado, embora se registem alguns cumes com posição
dominante. Num desses relevos foi edificada a Cividade de Bagunte (altitude 206
metros) com um controlo geo-estratégico quase único, no quadro dos grandes
povoados. Para oeste vigiava a plataforma litoral, extensa e fértil. Por outro
lado, dominava quer a confluência dos rios Ave e Este, quer os tramos finais
destes dois cursos de água, a Sul e a Norte, respectivamente. Controlava,
assim, o acesso, através do vale do Este, ao coração do território dos Bracari,
bem como a entrada do médio vale do Ave, onde fica a Citânia de Briteiros.
No Monte da Cividade é possível
visualizar um povoado fortificado de dimensões consideráveis, talvez um dos
maiores do Noroeste, com uma extensa área, igual ou superior à das grandes
citânias do Entre Douro e Minho. A sua ocupação estende-se da Idade do Bronze à
Antiguidade Tardia, embora destacando-se a organização do Ferro Pleno. O castro
aparenta ter tido, no seu momento de máxima expansão, pelo menos cinco
alinhamentos de muralhas. Esta Cividade foi ligeiramente explorada nos finais
do século XIX e princípios do século XX e está classificada como monumento
nacional desde 16 de Junho de 1910. As primeiras escavações ocorreram com o
arqueólogo Ricardo Severo entre 1886 e 1888 sendo que as primeiras referências
devem-se a nomes ilustres da Arqueologia Portuguesa: Francisco Martins
Sarmento; Leite de Vasconcelos, Ricardo Severo e Fonseca Cardozo. O arqueosítio
foi escavado em 1947 por Russel Cortez, que pôs a descoberto ruínas de casas
circulares, rectangulares, bem como um conjunto doméstico do tipo domus,
revelando a importância científico do sítio. Estes vestígios foram,
posteriormente, cobertos por um extenso eucaliptal. Todavia, nos últimos anos
realizaram-se intervenções de estudo e valorização promovidos pela Câmara
Municipal de Vila do Conde, que está a desenvolver neste castro um ambicioso e
bem fundamentado projecto, orientado por Paulo Costa Pinto e Pedro Brochado de
Almeida, o que já permitiu remover árvores, estabelecendo itinerários, abrindo
clareiras de áreas visitáveis e registando as estruturas. Pode-se, assim,
observar ruínas de construções de aparelho granítico, rectangulares e
circulares, bem como extensos pátios centrais lajeados, um dos elementos
típicos das grandes citânias do Noroeste de Portugal. As estruturas
encontram-se agrupadas em unidades habitacionais e estas em quarteirões. Pela
qualidade dos paramentos das casas e efeito estético dos lajeados são evidentes
a afinidades com a Citânia de Briteiros, com Santa Luzia ou com a Cividade de
Âncora. Embora ainda não tenha sido descoberta nenhuma estátua de um possível
príncipe, considerando a dimensão e posicionamento do sítio deve-se admitir que
foi sede de um dos vários populi que viviam no espaço entre o Douro e o Minho,
embora o seu nome seja desconhecido. Situado na freguesia de Bagunte, no
concelho de Vila do Conde é Monumento Nacional desde 1910 e possui uma Zona Especial
de Protecção desde 1960, o que permitiu manter a sua integridade visual e a
envolvente.
A Norte, no sopé do monte
conserva-se uma antiga via de circulação utilizada pelo menos desde a época
romana e que mais tarde foi Caminho de Santiago.
Como complemento pode-se ainda
dizer que Desde 1994, o gabinete de arqueologia da Câmara Municipal de Vila do
Conde tem desenvolvido trabalhos de limpeza, controlo da vegetação e protecção
das ruínas na zona da Cividade de Bagunte. O Gabinete conta com o apoio da associação
de património arqueológico de Vila do Conde (APPA-VC) e da junta de freguesia
de Bagunte. Todo o trabalho de valorização e transformação da Cividade tem por
objectivo torná-la no Parque Arqueológico de Vila do Conde. É também o maior e
mais antigo monumento nacional do concelho de Vila do Conde foi um grande
povoado, fortificado com 52 hectares de interesse arqueológico, entre a área
muralhada e o conjunto de vestígios periféricos. O povoado foi desde sempre
conhecido das populações locais que chamavam monte Subidade ou Soledade, duas
alterações ao termo latino original Civitate, de onde vem a nossa palavra
cidade.
3ª
Parte – Castro do Monte Padrão (Santo Tirso)
Após a visita ao Castro S. Paio e
à Cividade de Bagunte deve estar já muito próximo da hora de almoço. As
sugestões são várias e pelo caminho mais curto a distancia até o Castro do
Monte Padrão é de 35km.
Para se visitar o Castro do Monte
Padrão têm que nos dirigir até Santo Tirso e são várias as opções que existem
pelo que deixo ao livre arbítrio de cada um, contudo posso sempre sugerir que
regressem pela N306 até ao cruzamento de Vilarinho onde viram à esquerda
tomando a EN 104 até à Trofa ao longo do rio Ave. Passando o centro da Trofa
continuam na EN 104 até Santo Tirso (não se esqueçam de degustar o tradicional
Jesuíta). Aqui terão que apanhar a EN 319 em direcção a Paços de Ferreira.
Nesta estrada seguirão até à povoação de Monte Córdova mas sugiro que um pouco
antes façam um pequeno desvio para visitar o Santuário Nossa Senhora
Assunção que foi concebido pelo arquitecto Korrodi sob a inspiração
românica-gótica com alguns laivos de neo-romantismo. De planta em cruz grega e
soberba construção, faz lembrar as monumentais basílicas orientais.
Encontrando-se localizada em lugar de ampla visibilidade no Monte Assunção,
tutela daí a cidade de Santo Tirso. Foi construído em 1934, em granito, num
estilo neo-românico. Todos os anos no dia 15 de Agosto realizam uma romaria em
honra da Santa. As vistas sobre Santo Tirso são muito bonitas e no sentido
oposto já se consegue ver o Castro Monte Padrão, embora com alguma dificuldade
e em linha recta distam a cerca de 1.000 metros.
De volta á estrada e mal entrem
em Monte Córdova e junto à igreja paroquial, deverão virar à direita no
cruzamento assinalado como “Estação arqueológica”. A partir daqui deverão
seguir a estrada empedrada, acompanhado a sinalização até atingir a capela da
Senhora do Padrão, ao fim de 800 metros. Podem e devem estacionar junto junta
da capela, encontrando-se o castro no topo da elevação próxima, o Monte do
Padrão, efectuando-se de forma tranquila a subida em poucos minutos.
O maciço designado pelo Monte
Córdova, ocupa uma privilegiada situação geo-estratégica, pois divide as bacias
hidrográficas dos rios Ave e Leça, cujas cabeceiras domina. Deste maciço
destaca-se o Monte Padrão, sobranceiro quer ao vale do rio Sanguinhedo,
afluente do Ave, quer ao vale do rio Leça. Do alto do Monte, que tem uma
altitude de 413 metros domina-se, visualmente, uma ampla secção do vale do Ave
e numerosos e férteis alvéolos, bem como a planície fluvial do rio. O castro
erguido no Monte Padrão controlava não só a navegação fluvial como também um
corredor terrestre que ligava Cale à zona nuclear dos Bracari.
O Monte Padrão fica pois situado
na freguesia de Monte Córdova, concelho de Santo Tirso, é um dos grandes
castros do Entre Douro e Minho, com uma assinalável continuidade, testemunhando
mais de dois mil anos de história, pelo que está a justo título classificado
como Monumento Nacional, desde 1910. O local foi extensivamente
intervencionado, entre 1950 e 1956, por Carlos Faya Santarém, tendo as
escavações incidido em particular sobre a zona norte da acrópole, onde foi
descoberto um notável conjunto edificado já da época romana. Contudo a ocupação
do local remonta ao Bronze Final (século IX a. C.), conforme os vestígios
detectados na plataforma superior, em sondagens realizadas por Manuela Martins,
na década de 80 do século XX. Novas intervenções foram realizadas na década de
90 sob a responsabilidade de Álvaro Moreira, trabalhos que prosseguem
anualmente. Tal como noutros sítios paradigmáticos do Noroeste de Portugal um
primeiro núcleo populacional terá evoluído para um castro da Idade do Ferro, do
qual subsiste, bem conservada e visível, principalmente a Sul e Leste, a
primeira linha de muralha, que defendia a plataforma superior, bem como
vestígios de mais duas linhas, detectáveis pelos taludes artificiais. No topo
aplanado do monte observam-se estruturas do período castrejo, nomeadamente
casas circulares com ou sem vestíbulo, numa área de grande dinâmica urbana,
evidenciada pela sobreposição de estruturas. No quadro do processo de
romanização foi erguido um edifício de tipo domus, bem como grandes construções
rectangulares a norte. A casa possui um peristilo, um amplo pátio lajeado
quadrangular, rodeado por um porticado, para o qual se abrem diversos
compartimentos rectangulares. A norte de deste edifício observam-se amplos
compartimentos que parecem estar associados ao núcleo residencial.
A ocupação medieval não terá sido
menos importante, no contexto da cristianização no Noroeste, existindo uma
ligação à presença de S. Rosendo, figura emblemática do período da Reconquista.
Conservam-se, perto da entrada Leste do conjunto, os alicerces de uma capela
alto-medieval, dedicada a S. Rosendo, assim como de um edifício posterior
baixo-medieval. Deste período data a necrópole de inumação que rodeia os
caboucos das construções medievas, com sarcófagos formados por lajes de granito
e tampas, associada a considerável espólio cerâmico medieval.
4ª
Parte - Citânia de Sanfins (Paços Ferreira)
Após a visita ao Castro do Monte
Padrão fica somente a faltar a visita Citânia de Sanfins e cuja distancia fica
somente a 7,5km pelo caminho mais curto.
Regressar novamente à EN 319 e
seguir em direcção a Paços de Ferreira. Aproximadamente 1 km depois e à entrada
de Santa Luzia vira-se à esquerda e apanhar a EN 1115, cerca de 6km depois
estão na Citânia de Sanfins (tem placas indicativas).
O relevo da zona sudoeste do
Entre Douro e Minho, embora com uma média de altitude relativamente baixa, é
muito fragmentado. Entre as diversas unidades geomorfológicas destacam-se
alguns cumes que, pela sua imponência, dominam a paisagem envolvente numa extensão
de muitos quilómetros. É o caso do monte (570 metros), onde foi implantada a
Citânia de Sanfins. O seu posicionamento entre os limites das bacias
hidrográficas do Douro e do Ave deve ser sublinhado, explicando a sua
relevância estratégica, no quadro da paleo-geografia da Callaecia. Para norte
as linhas de água dirigem-se para o Ave. Para sul convergem para o rio Eiriz,
tributário do rio Ferreira que por sua vez desemboca no Sousa, próximo da
confluência deste último no Douro. O cume onde foi erguido o castro é aplanado,
o que facilitou a organização do sistema defensivo e o ordenamento
proto-urbano.
A Citânia de Sanfins é um dos
locais mais emblemáticos da Cultura Castreja do Noroeste Peninsular. Sendo uma
das grandes citânias do Entre Douro e Minho, é um dos melhores exemplos do
proto-urbanismo da II Idade do Ferro, com uma organização funcional do espaço
urbano, que se estende por uma vasta área planáltica. A Citânia é circundada
por três linhas de muralha, mais um quarto alinhamento complementar. Notam-se
várias portas nas muralhas, reforçadas por fossos a Norte e a Sul. Junto de uma
das portas, na segunda muralha, foi localizada uma estátua de guerreiro,
actualmente representado por uma réplica. A relevância desta descoberta foi,
mais tarde, confirmado pelo achado do guerreiro de S. Julião (Vila Verde),
igualmente detectado junto da segunda linha de muralha. A área intra-muros
ocupava pelo menos 15 hectares. A estrutura urbana do povoado é ordenada por um
grande eixo Norte/Sul, atravessado por diferentes eixos perpendiculares,
naquilo que constitui um notável ensaio de ortogonalidade na ordenação do
espaço urbano. Delimitadas pelos arruamentos e muros limítrofes observam-se
várias unidades domésticas com casas circulares, com ou sem vestíbulo, e rectangulares,
em redor de um pátio central, por vezes lajeado. Pelas suas características
morfológicas Sanfins é um dos melhores locais para se observar este modelo de
proto-urbanismo. Uma das unidades encontra-se reconstruída, de tal forma que
permite aos visitantes compreender melhor a importância da família extensa como
núcleo básico da sociedade castreja. No centro da plataforma, duas grandes
construções são interpretadas como estruturas proto-históricas de carácter
ritual. Um dos maiores pontos de interesse da Citânia é o balneário castrejo,
localizado fora da área urbana posto a descoberto, mas intra-muros, junto de
uma pequena nascente de onde ainda brota água. O balneário apresenta uma
estrutura comum às restantes construções do género, com fornalha de secção
circular, câmara de sauna, vestíbulo separado da câmara pela pedra formosa
decorada e pátio exterior lajeado, onde ainda se conservam dois tanques, assim
como as canalizações de abastecimento e esgoto. Distingue-se, também, uma fonte
de mergulho. A descoberta deste equipamento, na década de 70, do século XX, foi
decisiva para a interpretação subsequente destes monumentos, anteriormente
considerados como fornos crematórios desde o achado de estrutura idêntica em
Briteiros, na década de 30. No ponto mais elevado da Citânia, junto do marco
geodésico, subsistem os alicerces de uma capela medieval (dedicada a S. Romão),
enquadrada no espaço de uma necrópole de inumação. A Citânia de Sanfins,
Monumento Nacional desde 1946, foi primeiramente identificada em 1895 por
Martins Sarmento e Leite de Vasconcelos. As maiores intervenções seriam contudo
efectuadas a partir de 1944 e 1967 por Eugénio Jalhay (este apenas até 1950) e
Afonso do Paço. A partir de 1968 a Faculdade de Letras da Universidade do Porto
assumiu, através de Carlos Alberto Ferreira de Almeida o estudo do povoado,
prosseguido por Armando Coelho F. Silva que dirigiu sucessivas campanhas, em
conjunto com Rui Centeno, até 1993. A partir deste ano elabora-se um projecto
de musealização, incluindo o restauro de estruturas arqueológicas e a
construção de uma estrutura de apoio à visita.
Complementarmente ainda pode-se
dizer que do seu património se destaca ainda as Muralhas, Pedra Formosa e o
Núcleo familiar:
Em relação às Muralhas a Citânia
estava protegida por várias linhas de muralhas. As muralhas defensivas
adaptam-se de forma notável ao terreno, com uma planificação regular e
arruamentos ortogonais.
Sobre a Pedra Formosa – é um
monólito de grandes dimensões, normalmente decorado com gravuras em baixo
relevo, localizado no interior dos balneários da civilização castreja que
permitia o acesso, por uma pequena abertura, ao compartimento dos banhos e
vapores quentes ou seja, pode-se dizer que é o edifício destinado aos banhos
públicos.
“Dizem que alguns dos povos das
margens do rio Douro vivem à maneira dos Lacónio (Esparta uma das mais notórias
cidades-estado da Grécia Antiga). Untam-se com óleo duas vezes (por dia) em
lugares especiais e tomam banhos de vapor, feito com pedras aquecidas pelo fogo
e (depois) banham-se em água fria.”
Em relação ao Núcleo Familiar a
Citânia possui mais de cento e cinquenta construções de planta circular e
rectangular, agrupadas em cerca de quarenta conjuntos de unidades familiares.
Recentemente foi restaurado um núcleo familiar.
“No dia-a-dia bebem cerveja e,
raramente, vinho. O pouco que conseguem, depressa o consomem nas festas
familiares... nesses banquetes sentam-se em bancos construídos ao redor dos
muros, ocupando os lugares segundo a idade e a dignidade. A comida circula de
mão em mão. Enquanto bebem, bailam e fazem coros ao som da flauta e da
trombeta, dando saltos no ar e caindo de joelhos...”
Aos que aceitarem esta nossa
sugestão resta-nos desejar que desfrutem ao máximo possível.